domingo, 25 de agosto de 2013





 LATITUDES DO ESCORPIÃO 

                          { livro de Edu Planchêz }  Rio de Janeiro 2008
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 A HORA DOS DIAMANTES
Nós,
os Celebreiros,
declaramos somente contar com a chama de nosso interior
Contamos apenas com o “mar de raios”, do sol do céu,
do sol de nossos corações brasileiros universais
Possuímos raízes profundamente fincadas
Determinamos cobrir esse país  -Terra
com as folhas de ouro da poesia
“Não avança é recuar”
Nossas mãos, vozes, palavras,
inauguram a comunicação de alma para alma
Essa é a atitude de um celebreiro pau pra toda obra
Essa é a nossa doce entrega
Nada ou ninguém é caso perdido
Avancemos!
Se quiser nos acompanhe
Avançaremos, e o que importa é avançar
Se desejar, nos chame de tropicalistas, 
mangue-beat, nação - brasílis, 
homens-mulheres de pedra orgânica, ciclone invisível,
ou qualquer outra maravilha sem cotação na bolsa de Pequim
O fato é que estamos acordados
diante de uma terra cheia de estrelas e demônios estrelas.
Nada temer
A Lei das Leis é a nossa pele selvagem
Nosso sonhos ganharão corpo no reino da matéria
Não abriremos mão, ser feliz é a nossa opção
Infalivelmente os verdadeiros humanos serão evidenciados
e a voz do poeta será (é ) a maior de todas as vozes
porque a poesia é a maior de todas as revoluções
      
( EDU PLANCHÊZ )
 
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CHOVE UM NOVO PENSAR 
 
 “Digo que se deve ser vidente... se fazer vidente!” ( Rimbaud)                             
 “a poesia deve ser feita por todos” ( Lautrémont)
“Quando os assassinos do verdadeiro Rei obtém licença 
para andarem livres
mil mágicos surgem sobre a Terra”. ( Jim Morrison)
“Estou cansado de bater e ninguém abrir” ( Renato Russo)
    
                                                                                                                                                             Chove um novo pensar,
uma família nova está nascendo,
família essa formada por pessoas poetas,
despertemos para essa claridade,
temos que fazer parte desse novíssimo organismo
senão será o fim da civilização

Acredite ou não, o poeta está certo, os poetas estão certos,
os grandes pensadores... mas, quem os ouve?

Pessoas estão sendo abatidas como moscas 
sob o sol descorado da cidade linda


Um mar de sangue talhado inunda as celas nossas casas

Absortos, os habitantes da cidade linda acordam,
comem e morrem entre os dentes do fogo tigre metal pesado

Em nome do dinheiro fedorento,
humanos são abatidos feitos moscas
Melhor não nascer, melhor permanecer no mundo invisível?
Melhor adentrar-se no ventre da mãe mulher, dele sair,
para mergulhar na banha do mundo usando de luz, uma espada



( EDU PLANCHÊZ )

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ROSTO ÓSSEO
                   “não existe tempo em lugar algum”

                                          ( Mario Peixoto)

              “o ponteiro de segundos diz: menos um, menos um...”

                                                                  ( Mario Peixoto)

O centro da esfera é essa chuva
O centro do universo se move entre os mormaços
de nossas intimidades

Quem é que se move, a lente molusca
ou a visão água viva?

Má – ri – o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o!!!!!!!!!!

Nenhum tempo nos espera
           Aqui dentro
                             Lá fora
                                        No resto das latitudes

O ponteiro desliza levando com ele o soro de nossas vozes
O cinema feito por você, cineasta “Nuvem de calças,”
circunda, circunda, circunda as plácidas mentes
dos vindouros presentes

O Astrolábio, a Bússola, o barômetro, a câmera,
a moviola: pedras de gelo na alta tempestade

Estou dentro da ampulheta contando grãos atômicos
Fundido as partículas pétreas
escorrego para a outra ânfora

A máscara de Dionísio
encaixa com perfeição nos moldes desse rosto ósseo,
do outro lado, do outro lado,
de mim mesmo espelhando tudo



(  EDU PLANCHÊZ )


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O NEGRÓIDE TÚNEL
ABERTO NAS MURALHAS DO INSTANTE


O negróide túnel
aberto nas muralhas do instante
(por minha supra vontade )
nos leva ao intenso capítulo
da novela última
escrita pelo irmão Dostoievski
(sob as mais adversas condições)
O Irmão Dostoievski
diz aos passantes que resistam
aos apelos do fácil,
digo o mesmo
acrescentando alguns olhares

( EDU PLANCHÊZ )
 
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         CADEIA

 150 pessoas confinadas num cubículo
que no meu entender
cabe apenas um único demônio 

A imagem dolorida permanece reverberando, impossível de digerir,
não encontro respostas no campo do sentimento

Nessa noite estive na companhia de alguns amigos 
numa carceragem
(em Nova Iguaçu), encontramos irmãos iguais a nós,
sentados no chão sujo e frio,
estavam lá  à  nossa espera,
ali na qualidade de poetas solidários,
levávamos e buscávamos
um pouco de calor humano
e esperança para nós e para aquelas pessoas habitantes do inferno

Acredito que estar enterrado numa carceragem,
nos equinócios de um hospício,
nos trapos de um leito hospitalar
ou nos egoísticos acordes de si mesmo,
é degradante



   ( EDU PLANCHÊZ )



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           PERFUME E MÚSICA


Fotografias de mulheres perfumadas armam iglus 
nos ângulos aéreos de minhas narinas,
narinas artisticamente perfeitas
Respiro o ar vindo das fotografias,
engolindo pêlos, declives  úmidos,
perfume e música

Fotografias reacendem o que dormia,
e o meu outro eu vocifera, “ Artaud!”
No filme que chega pelas torneiras
do “Le Monde”
a atriz do cinema mudo beija
o cineasta polonês
fazendo sombra ao papel vegetal
e às gelatinas das luzes 

    ( EDU PLANCHÊZ )

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       LATITUDES DO ESCORPIÃO


Um castelo com mais de cem portas
cresce nos gravetos do vaso de plantas
A harpa imantada pela lua do Leblon
despenca do cacho maduro
As falas do belo contracenam comigo

Um castelo com mais de três mil portas,
levantado com tijolos
de matéria estelar,
poeira de música,
sentimentos e açúcares.
Vagueia o castelo
nas latitudes do escorpião

     ( EDU PLANCHÊZ ) 

 
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Zeca Silveira



Zeca Silveira diz
que transformo tudo em palavras,
que sou uma matraca que não para de pensar

Palavras correm na imensidão
Palavras preenchem o radiante céu de Milus
Elas varrerão os séculos

Zeca Silveira afirma, “falas pelos cotovelos,”
sim, falo com toda a minha cosmologia,
nasci para falar,
para amarrar palavras
nos panos desses homens calados



 ( edu planchêz )

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Ave magnética saindo do centro oceânico
da letra que tudo inicia


Novamente me vejo deixar as vozes da nau correr sem rota
pelas largas correntes do extremo
Ave magnética saindo do centro oceânico da letra que tudo inicia
Lobo de vozes estranhas patinando na neve do inverno doméstico
Vai a nau singrando pelas arestas radiofônicas
do livre pensamento
Não quero pensar,   
atinar para que direções-setas esse escrito encaminha-se

A estrada está aberta para o navio que sou
deixar seus rastros humanos nas luvas das águas de nossas mãos
O vento velho altera o movimento dos corpos
na dança única da metrópole
que construo entre os dentes do tigre elétrico da música

Cidade de mares sempre navegados,
ao norte do norte da agulha atraente,
se Marilza Francisco voltasse a escrever
esféricas poesias, não sentiria tanto frio

Fica o convite e os penachos da borboleta que some na mente,
os cobertores de fibras marinhas,
fibras de algas, fibras de pólios floridos

Lagostas sobem aos céus dos livros
por conta das conjugações de um ciclone de palavras enormes
A literatura que pratico tudo pode
Aqui não me preocupo com significados
Aqui não me preocupo

   ( EDU PLANCHÊZ )

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  A coisa preta que de noite ninguém vê


A coisa preta que de noite ninguém vê
se ninguém não inventar eu invento
A coisa preta que de noite ninguém vê
não precisa ser inventada

A coisa que de noite ninguém vê, mia, arranha a porta,
sobe nos móveis,
revira o cesto de lixo e os danados dos papéis

A coisa preta que de noite ninguém vê,
trouxe de seu mundo preto uma espécie de amor preto
que nos cobre de dentadas

Acho que antes dessa coisa preta que de noite ninguém vê
não existia The Beatles,
não existia o mundo,
eu não existia em meio àquela ópera surrealista,
coisa preta!

A coisa preta que de noite ninguém vê, esteja onde estiver,
ao ouvir esse poeta sacudindo o pote de ração,
sobe as escadas correndo,
entra em casa e se joga com todas as patas
nos raios rocíos do listrado sofá


  ( EDU PLANCHÊZ )


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A CORUJA MÃE

DE TODOS OS POEMAS 

A coruja mãe
de todos os poemas
sobrevoa a cúpula
de nossas cabeças
ainda pequenas

Nós,
simples aspirantes
ao projeto maior
contemplamos a ave símbolo
da inteligência
despejar seus filhotes
de papel
dentro
de nossos simpáticos
corações


 ( EDU PLANCHÊZ )

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De domingo para segunda tramo mover algo
para que tudo conspire a nosso favor


Sintonizando o verde das notas de cem,
as praias da Catalúnia,
a inteligência administrativa de Picasso e Dali
Minha inteligência liga-se
ao raio metal
da boa colheita

Nenhum medo
de degenerativas doenças,
não seria eu um bhuda
se tremesse diante das intempéries
do corpo

Acho que “andei sambando errado”
mas sou humano
passível de erros e acertos

Embalado pela fé sem fronteiras
atarraxo meus parafusos
nos furos desse dia crucial

Meu canto bicho espalha-se
pela “selva de aço e antenas”

O bambu chinês Edu Planchêz está bem entranhado
na terra, é hora da árvore elevar-se
até o céu das pessoas

( EDU PLANCHÊZ )


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16h e 46m da minha tarde

 
A girafa de luz grená
mora na parte oéste do verso
que ainda não gestei

Fernando Pessoa nos segue
picotando letras
sobre os nós
de nossas cabeças estreladas

Sejamos o pássaro de tinta fosforescente
para pintarmos na água
as melodias que Jorge Luis Borges
encontrou na ponta do iceberg

Pensar Pensar Pensar
até derreter os blocos confusos
regentes de nossos cérebros comuns

Dez e trinta e cinco
de segunda-feira
no mesmo quarto de pensão

 
( EDU PLANCHÊZ )

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As patas do lobo dourado

 
As patas do lobo dourado estão presentes em todas as páginas desse caderno,
procuro o sono nos solos de Valdir Azevedo
para que o gracioso animal vindo da constelação de Centauro
derrame o aroma  das flores de laranja em nossas fronhas

Mesmo tenso e com dificuldade de dormir
sou o homem mais feliz do planeta
tal qual Nitiren
pilar da presente civilização

Determinado a vencer sob toda e qualquer circunstância
faço da poesia o prismático alimento
Meu pai!
Minha mãe!
Meu filho!
Minha mulher!
Meus irmãos e irmãs!
Amigos e amigas!
Nas tardes e nas noites
não esqueço o beijo
que Aldir Blant deu em minha testa
dizendo “nunca desista”
(após comprar meu simples cd)

 ( EDU PLANCHÊZ )

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Na testa dos muros
  

Tudo corre, tudo é mercado, era digital:
cifras astronômicas cobrem
os céus que antes eram cobertos de estrelas

Não quero esse mundo sem violas,
sem cadeira nas calçadas...
Acordo diante de uma realidade há muito profetizada

Os homens deixaram seus cérebros serem tomados
por vermes de porco
Nada me curva, mundo apodrecido!

Amigo Irael Luziano,
irmão, as juras que fizemos estão impressas
na testa dos muros

( EDU PLANCHÊZ)

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                1973

Cinco e cinqüenta e cinco de 29 de agosto,
sob a modernidade
da chama de uma vela
escrevo essas linhas

Volto às frutinhas verdes envernizadas
que um dia encontrei
nos costados de uma colina
(aqui nos arquivos da cabeça)
São José dos Campos,
bairro Jardim da Granja
Morávamos de aluguel
na casa de um sargento
da Aeronáutica amigo de meu pai

Eu e meus irmãos e a cadela Pitini
correndo atrás de cadelinhas-magras
ainda não tocadas pela poluição
dos novos habitantes

1973 de muito frio,
terra estranha, chuva,
barro atolante grudando no sapato
e nos pneus da kombi 69 de meu pai


 ( EDU PLANCHÊZ )


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O fogareiro


Marcas de uma segunda-feira:
dormi até às dezoito, 
fiquei preocupado com a perda da luz do dia

Acordei desconectado,
com nenhum ou quase nenhum pino ligado,
desarvorado, cruzei às pressas as ruas lâminas da Lapa
tentando encontrar o comércio ainda aberto

Após rodar por um punhado de lojas
encontrei a resistência
que precisava para ressuscitar
o fogareiro

A tentativa para trazer o fogareiro à vida foi frustrada
porque a fajuta resistência estilhaçou-se
assim que liguei a tomada.

 

  ( EDU PLANCHÊZ )
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                      Brasil Barreto e eu


Os animais falam bem alto!
Uma das patas da inquieta raposa transpira pelos túneis
de um de meus ouvidos,
a tartaruga marinha nada nessas costelas...
O que fazer com os animais
e a maldita culpa que se eleva
toda vez que arreganho a porteira?

O peixe-meus-joelhos,
estampa suas barbatanas
sobre a extensão dionísiaca
dessas coxas

]Meus animais
eternamente no cio
parecem não respirar sentimento algum

( EDU PLANCHÊZ )

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Cardumes de irmão e irmãs


A ponta ultra fina da realidade
perfura os tecidos
mais profundos

Pontas de corais fazem do que sinto
jardins redondos
povoados por sonolentas serpentes
e peixes-palhaços

Orgulhoso
de minhas próprias possibilidades,
da virtuose entranhada
nos próprios pulsos

Levanto as roupas
e saúdo os numerosos cardumes
de irmãos e irmãs

( EDU PLANCHÊZ ) 
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O amor dos peixes que hoje são fósseis


Sobre o nada construo Vilas...
eu, o arquiteto feito de fósforo e gases acesos,
ando nos andares mornos da construção
lançando jatos de abelhas-majestades
nos visionários olhos sonolentos
dos muitas embarcações
que a armada de Camões libertou
sob o denso lábio da imaginação

O mar dos que morreram e viveram pelo mar
é uma mulher sonhando
com o amor dos peixes que hoje são fósseis

( EDU PLANCHÊZ )

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Carvão guadião das origens


A natureza superior
( o fogo e os céus)
e a natureza inferior
(a água e a terra)
unidas
sob
os nós
sustentáculos
dos pássaros tecelões
movem-se
nos dobrões
dos cocares

Atinge o simulacro
dos céus
a paliça e a lança
do homem
filho
da mãe
do milho

Toda a planície assiste os círculos de fogo
fundirem-se um a um
deixando nos rostos as marcas
dos mais de mil anos que nos separam
Para compreender o que digo, volte ao espelho,
mire o meio, encontre nesse centro o carvão
guardião das origens

Vejo nele ( o carvão )
olhando por dentro
que danças inebriado na fumaça
do esquecimento
(sobre um colina de ossos)

Tempo,
ainda corro com os alces
no plano central do continente
aborígene

Tempo,
esse planeta possui em suas vértebras
as vértebras dos corpos que usei

( EDU PLANCHÊZ )

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  A poesia do meu coração salvará o sol

 

Nosso sol está cada vez mais quente
ele não vai durar para sempre
daqui  a  seis bilhões de anos
não passará de uma Anã branca de opaco brilho

A morte física alcançará o âmago do sol
das manhãs de todas as vidas,
um dia, ou, há dia nenhum,
o que a ciência diz
nem sempre poderá ser comprovado

A poesia do meu coração salvará o sol.
O sol vem salvando a poesia
há bilhões de anos

Não acredito na morte, nunca morrerei,
o sol não conhecerá essa fatídica palavra,
a confraria dos poetas eternos
não deixará que a convulsão de gases
consuma o Rei.

( EDU PLANCHÊZ )

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         Comunidade

São casas grudadas nos pregos das letras,
rabiscos ou lares
ocultos no fundo verde das garrafas

Crianças ou imagens tortas espremidas pelos muros,
cachorros feito de linhas,
cercas eletrificadas, tecidos queimados 
numa fábrica
em protesto aos importados chineses

Um, pista azul,
outro, grená.
São pessoas sem cor,
 cores manifestas
da estrada figurativa
Pessoas físicas,
mulheres e homens vestidos de zinco
e sobras de caixotes

( EDU PLANCHÊZ )

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Cavalo de arame

 
Seguindo os passos do cavalo de arame
entro no desenho transformado em porcelana,
desenho esse, trazido à segunda dimensão
por Pablo Picasso num dia noite
de intensa chuva de ovos

Não fui menino prodígio,
fincado no medroso corri os meus primeiros anos
de isolamento e tapas na cara

Nem todo peixe que reluz é moeda,
nem mesmo as barbas longas e ásperas
do homem  que encontrei num dos meus sonhos
continha a prata que as crianças precisam
para crescerem. 

( EDU PLANCHÊZ )

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17

Infalivelmente
superararei a altura
daquele despenhadeiro
sou
um salteador
anfibio
crustáceo
quelônio

( EDU PLANCHÊZ)

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Cansado de rimas fáceis e previsíveis pessoas               
      
“todos trazemos uma auréola de inferno em torno da cabeça”

Cansado de rimas fáceis e previsíveis pessoas,
ordeno aos laços canoros
da substância psíquico- ativa da antena construtora
que escalde até o aflorar dos ossos
os que não se renderem
aos vendavais da hiper-criatividade

Porra de pessoas
que vivem
apenas para cagar,
morrer,
ver novela e comer macarrão
Que rachem até serem exibidos os tentáculos da massa cinzenta

( EDU PLANCHÊZ )

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Os símbolos atormentam e alegram as cabeças


Os símbolos atormentam e alegram as cabeças,
isso é inegável, veja o significado, ouça a significância
daquilo que nos leva a uma grande idéia

Uma esfera bem encaixada na boca de um quadro
nos leva à oitava elegância 
ou a um certo capitão piloto da nave enigmática

Os símbolos de uma época esparramam-se
sobre os rótulos dos remédios,
misturam-se aos grãos do vinho,
entram nos sabores do pão

Despejo o oceano no fundo falso de uma xícara
Bordo nos fios do pêlo do gato o rosto de Janis Joplin
porque Maria Isabel que morou em Frisco
mora em minhas portas

Os símbolos confessam, “estás a 200 metros de tua liberdade”
Canhões de música e luz arrastam o que crio
até o abrir
e o fechar de teus olhos

O Deus Símbolo desdobra asas,
decola levando no bico esse poema

A profecia dos símbolos
risca na lâmina da sensibilidade
os contornos das formas
que a matéria mãe deseja para seus filhos

Os filhos dos símbolos
arremessam pedaços geométricos
sobre as cúpulas
das torres

Que se abra a veia
para vermos
na tela
do sangue
esses ícones

A cruz de estrelas
junta-se a outras cruzes de estrelas
para compor no pensamento celeste
as frases de minha vida

( EDU PLANCHÊZ )

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O Homem e o Bhuda

 
Aristótelis afirma:
“a Terra é o centro do universo”,
errou,
o centro do universo é você,
sou eu

Após a fecundação,
bebi os espermatozoides
que não atingiram o núcleo
do óvulo
Continuo bebendo...
o que sai da boca da uva-neurônio
e da uva uva

Entre naves
e ferozes insetos...
nado
no óleo
da lâmpada de Aladim

Assim é o passeio
daquele que flutua
entre o Homem
e o Bhuda


( EDU PLANCHÊZ )


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      O Horizonte

 
O Horizonte do Czar
estende-se
para além das montanhas,
toca as faces da água,
penetra nas fibras da madeira,
atinge os alagados do semblante

Um dia os trezentos
e tantos mil países da esfera
ficarão debruçados
sob a dignidade de meus poemas
para erguerem estátuas

O Brasil orgulhoso
estenderá tapetes
de luas frescas
para esse escriba
e suas amadas dormirem


( EDU PLANCHÊZ )

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 CESTO TECIDO COM FIOS  SANGÜÍNEOS


O sopro que vem das bocas de meus pés diz:
solte os passarinhos, as aves não nasceram para o cárcere,
nós não nascemos para tombar diante da porta da perfeição 

Fazer agora o que tem que ser feito
porque no vento de hoje há um avental de flores cor de leoa
 
Reviro a terra com os extremos,
encontro o tubérculo encarnado e as maçãs
que alteram os translades 
A lua azul de kamakura suspende as telhas e a calha
para que possamos saborear o espetáculo imaculado

Amigos Deuses, tenho as lentes,
as poderosas lentes que um dia queimaram
as naves dos inimigos de Atenas

Usarei a imensurável luz de Hélius para ampliar tudo
que gera sonhos

Guardarei sempre,  a boa sorte e os feijões
trazidos pela lua azul de Kamakura
no fundo agudo
do cesto tecido com fios de sangue


( EDU PLANCHÊZ )

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Compromisso?


Deitado nas folhas, entre uma pedra e outra...
Edu Planchêz não preocupa-se,
deixa as espumas dos fonemas seguirem seus rumos,
ele é um corpo pensante atravessado
entre o nascente e o poente
da cidade Rio de Janeiro

Não cobre coerências,
o livre artista soletra palavras
desenterrando coisas
até então desconhecidas
Cão com plumas,
“Cão sem plumas,”
compromisso?

Apenas com o sono zênite
das ervas

( EDU PLANCHÊZ )

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  Crateras

 
O gás hilariante
deixa a boca
e os dentes
mais que trêmulos

Agora, o homem é roda-gigante,
carrossel saboroso
entrando no solene palácio
do riso
O Charada
chegando do centro sul da Índia
reina arrancando dos vasos
do nariz... minhocas!
Fita a platéia,
rodopia chamando pelos nomes
de seus pais
Acreditamos
piamente nessas cenas,
afinal de contas,
somos filhos do gás,
da água
e da argila,
herdeiros da arte ousada
vinda das crateras

 ( EDU PLANCHÊZ )

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   AMOR, SE VOCÊ AMASSE
   O FUGIDIO COMO EU AMO...

 
Amor,
um dia serei prêmio Nobel, fique certa disso,
minha dedicação à literatura é tão grande;
anos há fios dedicados ao exercício do desentranhar multidões,
sonoridades, estonteantes imagens, lágrimas e suores

Amor,
entenda, sou um homem da montanha, um homem-montanha,
um homem do mar, um homem-mar
apaixonado pelo estranho, pelos labirintos, pelos abismos insondáveis;
um fazedor de imagens futuras, de barcas revolucionárias,
compositor de idéias e contrastes

Amor,
se você amasse o fugidio como eu amo,
os galhos da árvore fantástica entrariam pela  janela 
e a nossa casa seria um pomar repleto
Todos os conflitos encontram soluções nas pátrias da poesia
e nos cristalinos filmes

Amor,
subamos nos fios de nossos próprios cabelos,
no alto do Corcovado para entrelaçarmos os dedos e os olhos


( EDU PLANCHÊZ )


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MAÇÃ DE OURO OU LARANJA


MAÇÃ DE OURO
ou LARANJA
oriunda do leste europeu
EDU PLANCHÊZ
ou SILATTIAN
oriundo dos outeiros de Jacarepaguá Jacaré-coroa 
e dos pampas das visões de Riobaldo
Rodei, rodei
em torno do baobá do esquecimento
e nada esqueci,
lembro de tudo:
dos navios
e do reino dos homens e mulheres
dos pés descalços,
dos leões iluminados
e das tendas de madeira lustrosa

( EDU PLANCHÊZ )

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Um dia levantei o colchão 
da cama de minha avó paterna


                         (PARA NICOLI, ROBERTA & JOÃO LUÍZ)

Um dia levantei o colchão da cama de minha avó paterna,
para minha surpresa vários cartazes com a fotografia
do  presidente Getúlio Vargas ali estavam
carcomidos pelo mijo de meus irmão menores
e pelo meu próprio mijo
Acho que o ano era 1969,
não lembro muito bem o que fazia
naquele momento da pré-juventude
Manoel Bandeira e Cassiano Ricardo eram os galos
que me acordavam para as macaquices:
“Martim Cerêre” chutando a Terra de couro
nas molduras da minha janela,
a mais fascinante janela de Jacaré-coroa Jacarepaguá

Muitas vezes via “o bicho” homem catando lixo
nos latões do pátio da minha escola Morvan de Figueiredo...

Um dia levantei o colchão da cama de minha avó paterna,
para minha surpresa vários cartazes com a fotografia
do  presidente Getúlio Vargas ali morriam
ou tentavam mostrar as crianças o rosto 
do possível pai dos pobres

“Anda Luzia, pega o padeiro e vai pro carnaval
Anda Luzia, que essa tristeza te faz muito mal...”
Lembrança, lembranças? Eu tenho uma história, uma origem,
nada tenho haver  com o pequeno dinossauro Horácio
filho dos dedos de Mauricio de Sousa,
conheço meus pais e meus irmãos,
não, não nasci de um ovo pré-histórico 
Acredito cada vez mais na poesia, e nas pessoas,
no que elas podem  fazer por mim,
no que eu posso fazer por elas
Pai dos pobres,
pai dos ricos,
pai dos alvoreceres e dos crepúsculos amados,
esse não é o invento Deus, nem o político acima citado,
para mim é Mário Quintana de quarta-feira, de quinta-feira,
de sexta-feira,
de sábado e de domingo
A entidade poema ajuda a pessoa física
que está sentada na frente dessa tela vermelha
reorganizar os pensamentos e os traços da figura
que ele representa dentro da sociedade humana

A noite e a madrugada baixam
com todas as escamas que são quadros de Dali e Picasso
sobre os tentáculos musculosos de minha cabeça tão tua

Um dia levantei o colchão da cama de minha avó paterna,
para minha surpresa vários cartazes com a fotografia
do  presidente Getúlio Vargas ali morriam
ou tentavam mostrar as crianças o rosto 
do possível pai dos pobres

 
( EDU PLANCHÊZ )

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             Claridades da lama
            
               (para Kairus Trindad e Gisele Amarelo Cabelo)
Coincidência ou não, pensei, escrevi,
falei sobre Getúlio Vargas...
liguei a tv, Jô Soares entrevistava um sociólogo
que num determinado momento disse as mesmas palavras
que eu acabara de dizer

Minha antena, tua antena, nossa antena
agarradas nos fios dos intensos acontecimentos ,
essa é   a   razão de nas letras armarmos as alucinações
que alteram profundamente a  percepção
das pessoas sobre o mundo
Kurt Cobain grita o tempo todo
por dentro de nossas casas
um berro de pureza e integridade,
a poesia do tempestuoso
faz a temperatura congelar e aquecer
o sangue com ventos
de  milhões de  quilômetros por segundo

Difícil caber em si 
quando já desafiamos os desfiladeiros
e as  claridades da lama

( EDU PLANCHÊZ )

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 Conchas abertas

 
Visto a malha metálica
que a modelo ossuda vestiu
numa das passarelas do Rio Fashion

Entro nos moldes riscados
pelo saudoso Dênis com rastros de grafite

As chuvas
anunciam a chegada dos salmões,
eles chegam com as mulheres,
o ar enche-se de taças
e de água salgada

O plano da beleza
é impor aos olhos
e aos sentidos
uma aguda fragrância

Nos labirintos,
elas trocam os trajes,
possuirei conchas abertas,
conchas abertas, conchas abertas,
abertas, abertas, abertas...


( EDU PLANCHÊZ )

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Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar 

                             ( ao parceiro Brasilande de Sá Barreto)
                                     
                   “A voz faz o trabalho do Budha”
Esse poema nunca vai ser lido
porque o escrevo de forma automática
deixando o subconsciente ladrar

Esse poema sempre vai ser lido porque
o escrevo de forma automática
deixando o subconsciente grunhir

Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos) bóiam
na clara espessa do ovo olhar

Minha mãe ainda menina vestida de florista dança
em volta da fogueira composta por galhos de sândalo
(creio que ela traz nos lábios a canção
que contém meu nome)
Vou mais longe ainda alongando os braços e o pescoço
para pegar no cabo do machado que cortou a árvore
usada para ser um dos mourões
que integraram os alicerces da casa
que reverenciou os meus franceses ancestrais

O raciocínio começa a impor seu reino,
o escritor aqui assume o seu sentido
de ser um dos pensares do mundo
para destravar o sentimento inútil,
de ser inútil, de servir para nada,
de estar vivendo atoa  

Vazio, vazio da dor inexplicável, carolas de flores frescas,
galhos e folhas prontas
para compor as novas camada do chão
Eu, o chão do planeta:
as pessoas pisam em mim,
os animais dos grandes cerrados
armam suas camas de chuva
sobre os vãos de minhas costas

Poeta que dorme nas camadas do homem
Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho,
continue acordado,
ajustando a vida desse homem a vida do mundo
Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho
possui uma família de sangue

Estou triste, o que é tristeza?  Segundo Osho,
somente um momento profundo,
um instante de inverno,
um tempo em que as luzes ficam geladas

Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos) bóiam
na clara espessa do ovo olhar

Após um banho de água real
retomo o poema inesgotável e as rédeas da escrita 

O livro aqui plasmado cabe no canto esquerdo
das estantes do rosto
Palavra por palavra entrando no beco
moradia de Manoel Bandeira
Também sou poeta menor,
partícula única da poeira milenar

Meu pai terrestre,
por uns sóis nos Antares da juventude,
foste o sonhador Roberto Paranhos,
tocaste em algo terrível,
por isso abandonaste o dom de “ver” num canto,
no sono, nas redes do esquecimento?

Pai, não posso julgá-lo, com que direito o faria?
As brasas apanhadas por ti nos quadrantes do insondável
cá estão, mais vivas do que nunca,
mais obtusas, mais agudas,
prontas para estilhaçarem a penitenciálria vidraça

Nenhum arrependimento tremulando nos varais
Nenhuma perna quebrada por conta dos tombos

Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos)
bóiam na clara espessa do ovo olhar

Esse poema levantará vôo andando feito pássaro curiango
(pássaro que muitas vezes vi entre os bambus
e as sombras da noite mágica)

Venha, menino criado longe do mar,
cravar os dedos na casca do fruto futuro
Venha, homem de gênio,
marchar sob o teto nevoento dos aviões antigos

Dúzias de ovos quadrados (ovos retratos) bóiam na clara espessa do ovo olhar

Nas artes das letras empunho a espada forjada
por meu mestre do espírito humano
Ela é a minha caneta, a boca e a língua
                          “A voz faz o trabalho do Budha”

( EDU PLANCHÊZ )

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PAPIRO A      
              
                                                                   ( à Marcelo Yulka )

1-Luz origem
Jackkeroukeando embrenhei tiras de papel,
umas nas outras,
para me sentir nas escamas do velho malungo
Antigo como os escaravelhos
Nem cego, nem surdo
Inspirado pela angústia e pelas guitarras do passado

2-Stephan Grappelli está aqui comigo,
ele e todos os Reis e Rainhas da pátria violeta
Stephan Grappelli pressiona contra o peito seu violino planetário,
estendendo um dos seus braços por toda a extensão do comprimento
balsâmico de minha sala,
até o arco de crinas roçar o corte úmido do violino ventre

3-Meu pai minha mãe,
nascemos, nasci

4-Pétalas  pregos pétalas pregos penetrando
pardas pálidas plantas
Nossos corpos de carne e números
Arte menor
vinda da lama salgada
Arte maior
caída das crateras erguidas pelos pássaros fazedores de vento

5-Falo de tudo, mas não toco na falta de amor,
da “flauta que me roubaram”, da mulher, do arquétipo mulher

6-Diante da minha velhice, das nuvens carregadas de Astor Piazzola,
dos trovoes  Astor Piazzola se sobrepondo aos meus trovões ora acomodados,
fico quieto, o silencio é  a mulher que desejo

7-Dor musical, dor quase cortiça, quase centelha de gelo se revirando no corte umbilical do ultimo trovão

8-Pequeno, paralisado, não querendo entender absolutamente nada,
não há o que entender, a morte leva as lagartas e as borboletas,
o beijo e os planos 

( EDU PLANCHÊZ )

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  PAPIRO B          
 

1- Levanto a vela, a coluna e o mar
E vou rosaventando para o sul das futuras noticias
Alegre, aos pés do maestro
Guardo meus maestros em caixas de acetato;
ali, eles, as cordas, os couros e os metais,
dormem ate o próximo concerto

2-Papiro B
   Papiro A
   Janela J

Aquelas botas sem cor deixaram de provocar calafrios nos insetos,
eu já não os mato, eles povoam as altitudes dessa casa cantante
e a tela que usaremos para pintar o nosso ótimo filme

3- O novíssimo mundo tornea-se nos vibratos da minha poesia
Aqui as vindouras gerações poderão caminhar

O vento não vertera uma única folha
Os amores serão sempre embevecidos com a mais jovem essência
Se quiser poderá juntamente com nossos  irmãos poetas de todas as épocas,
compor o feixe, ser mais uma vareta guardiã  da abstrata chama
Não há promessas de dias fáceis para um apóstolo do silencio,
o único tesouro prometido, é o tesouro do coração
Essa chama escorreu em Joachim de Floris, Hieronyus Bosch,
Pico de Mirandola...
e chegou ao nosso tato
                       São José  do Rio Preto,  20 de dezembro de 2001

( EDU PLANCHÊZ )

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TERREMOTO FRONTEIRA VERTIGEM

Abro um fio úmido no fosso
para que todas as possibilidades do peixe se eternize

Chuva de nós mesmo, clarim,
pétalas de rosas frias misturadas aos círculos do papel
Tempestade no crânio, “tanto limão pelo chão”,
tantas formas piramidais espalhadas 
pelas camadas calcárias do mar,
poderia chamar ladeiras de mar,
um mar de gente estende-se
no pano-bandeira-estandarte de um país inteiro

Biscoito, café!
Tagarelo: não ter assunto é assunto,
não ter a exata dimensão do aquário 
possibilita tragar qualquer o peixe
Meu ninho de possibilidades 
caberia perfeitamente numa folha de parreira
Meu sonho de uva ultrapassaria aquelas calmantes nuvens

Laço com o cabaço que o sol me deu o falo-botão-de-azaléia

Johny Mathis, o cantor, vida inteira de tia Solange,
a menina professora que aos 28 rasgou a roupagem da pele

Nossos mortos palpitam nas uvas ainda verdes

E o nosso quintal não possui mais que alguns metros de saudade
Sinto saudades de tia Solange, 
dos muitos beijos que lhe dei no rosto,
da cor de seus seios
que certa vez eu menino tive bem perto do terreno do olhar
Ela nunca esquecia o meu aniversario; num deles,
fomos almoçar num restaurante de Madureira;
tia Solange me enchia de revistas em quadrinhos,
ali iniciei meus vôos

Ainda estou enterrando os meus mortos
Reduzido a uma dúzia de lagrimas,
há coisas que falo que são só para os meus ouvidos,
você não entenderia; por isso,
toda a porradaria que esse poeta faz com a guitarra
é terremoto fronteira vertigem

Ramos em lagrimas, pássaros em lagrimas,
Heloisa em lagrimas,
lagrimas de barro no colar da moça,
botões de lagrimas lubrificando a retina,
as pálpebras, o nariz, os cílios, o vidro da Terra

( EDU PLANCHÊZ )

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Não haverá mais furacões e outras catástrofes


A Humanidade que ergueu monumentos 
tal qual a estátua da Liberdade,
a Torre Eiffel, as Muralhas da China, o Taj Mahal...
poderá sim forjar uma nova Era,
de homens conscientes   

Vejo sim, novas águas limpas, coalhadas de peixes e crianças.
Nas novas velhas cidades  guiadas belo, 
as mesmas pessoas, agora reformadas 
trançam magníficas guirlandas rumo a outros liames.

Sim, haverá o novo, nenhuma poluição,
nenhum motivo para empunhar uma arma que destrua
Os novos habitantes da Terra
trarão em seus rosto as imagens do manso mar de corais

Eu vejo, mesmo que ninguém acredite, nenhum lixo nas ruas,
nada de rastro de fuligem no horizonte

Lançando mão de toda a tecnologia e da intensa ciência
o novíssimo homem brilhará entre seus irmãos de outras espécies
O galo e o lobo, a pomba e o camaleão, o lagarto e a centopéia...
irmãos, grandiosos irmãos,
sem eles não seriamos homens

Eu vejo, mesmo que ninguém acredite, 
as florestas serão respeitadas,
o pinheiro e o carvalho continuarão,
a secóia e o jatobá permanecerão frondosos
servindo de morada para pássaros e demais criaturas

A terra abrirá seu peito para os novos filhos,
não haverá mais furacões e outras catástrofes
Homem haverá mudado sua atitude

 
( EDU PLANCHÊZ )


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  O LIVRO                                    


                                            ( Ao meu irmão Marco Antonio)
     “Os beijos das estrelas chovem sobre seu corpo”.
                                                    ( Aleister Crowley)

 
Os fios que cobrem o tecido do braço são feitos de perfumes
Creia que o meu e seu corpo hospedam bilhões de florestas
A confiança nos levara ao trono dos pássaros
e você poderá dizer:
que o meu e o seu cabelo servem de ninhos
para os celestiais depositarem seus ovos

Apesar das ruas andarem turvas,
trafega com vossa luz por cada rosto

Os que conhecem o espírito do frio
poderão encaixar o sol nos furos do vento
e nas cavidades do olhar

Encontra no gato um antigo irmão
e no cachorro a voz de nossas mães

Filhos e filhas da Grã-sonata amarela! Reais minérios,
a liga, a ponte que nos ata ao dom delirante dos caramujos

Dizer que o galo vermelho anda solto
na voz da mulher de negro,
é afirmar aquilo que os lábios de Raul espalhou
por nossos braços e costelas

     ( EDU PLANCHÊZ )
   
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            “AZUL GEMADO”                      
                                          Ao meu filho Ícaro Odin

     “Eu sou a cobra que dá conhecimento & deleite & gloria brilhante...”.
      Pálpebras azuis celestes... Abóbada do meu corpo...”
                                            (Aleister Crowley)


Estalo fluorescente de antas de chocolate
rolando sobre sombras
Visões trazidas no volume místico das coisas

O querer de maio é  intenso,
maior ainda para os que corroem os moinhos 

Sou uma chaminé, moro numa delas
Construir e desconstruir casas, poemas, portas de carne,
amores que não me querem

A palavra tartaruga chegando
e eu buscando frases para encaixá-la

Melhor, o sistema solar dessa casa descansara noutro hoje,
nos cantos dos calos do sólido bicho

Palavra saindo de palavra para entrar em palavra

Cecília Meireles assumindo sua existência de luva
porque esta frio em São Jose dos Campos

Violão (porque quero) de pó de café

Mario  Faustino diz que o homem
e sua hora se esbarram num caderno matinal

               22 de maio 2004

 
( EDU PLANCHÊZ )

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    VELHO


Velho, muito velho,
com mais de cem anos,
beijando as costas da baronesa
da chama tremulada

Velho, muito velho,
retendo nos lábios o sangue
e o retoque para aprofundar as rugas

Gostaria de herdar os navios e as pontes
que os mouros
e os escoceses deixaram de edificar

Os dias que ainda tenho
Os dias que não mais terei

Velho, remendado, carvalho repleto de anéis,
cascavel arrastando bilhões de guizos

Velho, orgulhosamente assim:
capitão de abismos cativantes

 
( EDU PLANCHÊZ )

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VELHO II

 Mergulho na gota e na nova branca coisa
que cobre o festeiro rosto

Velho, forasteiro, permanente morador
Economizo palavras,
os velhos assim o fazem

Violão encostado, parede clara,
clara cidade fria
Homem frio vivendo no frio

A cartilagem da musica
dissecada pelos vibratos
de Maria Bethânia
gosta do frio
Vibro com a cantora
Vibro suando sobre o postulado dos radares

 
( EDU PLANCHÊZ )

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MAIS VELHO


Mais velho, todos, eu, o alicate,
Jorge Luis Borges,
Londres, Paris, Córdoba,
a sopa, o teto do relógio,
meu pai

Antonio Eduardo, o personagem que governo,
possível país,
submarino de carne e musica
Mais velho,
fundido-se a planta,
indo ao mar coberto de naves,
para colher no fio das cidades um caju

( EDU PLANCHÊZ )
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O DEMONIO DA VELHICE


O demônio da velhice
derrama capas de chuva
sobre os homens
para que eles fiquem tristes

Alguns, os estranhos, não se intimidam,
despejam o óleo,
o alho e o limo das frigideiras
no fundo falso
dessas vencidas criaturas

Velho é o fim do mundo
que as beatas veneram

 
( EDU PLANCHÊZ )

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  OLIVA



Oliva, a lamina, não o cabo
Jimi-poderes aguçam o lodo lúdico,
e a carpa ( pedaço-do-dia-que-a-noite-encontrou)
jura que suas serpentes de ovas
são Plutões-Uranos- fervendo
no liquido organismo

A cor em seu momento vermelho
planta pétalas de gelo nos joelhos das rochas

Queira comigo ver as entranhas,
alaranjar o perfume,
dizer sim a morcegos e libélulas

Outrora esteve comigo no estomago planetário
do deus Orenoco,
foste peixe,
concha, marisco,
aguapé,
muralha de relâmpagos

 
( EDU PLANCHÊZ 

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FOI PRECISO CANTAR 
PELA MILÉSIMA VEZ O BLUES
DA PIEDADE 
PEDINDO PERDÃO A CAZUZA


José Agripino falava num canal de tv a cabo
de seus livros de sua vida mal criada
Edu Planchêz se prostituía
em nome de um bem estar qualquer
Num ato involuntário derrubou um pouco de sal
sobre a geladeira
da contista Rosa Kapila
mãe de seu filho
por isso quase trucidou quase foi trucidado

José Agripino na tv no Embu das Artes lançando um novo livro
Edu Planchêz com seu filho Ícaro Odin num sobrado da Tijuca
domando a depressão e os espíritos retrógrados

Nada que o amor não resolva,
mas, no entanto foi preciso cantar 
pela milésima vez
o Blues da Piedade pedindo perdão a Cazuza

Mudarei de calçada para o bem de todos

Esse são dias de ajustes,
Edu Planchêz  perdeu a cabeça, queimou a pipoca,
abusou do açúcar, lançou jatos de moscas sobre o fogão,
deu com o costado da cadeira no pescoço da andorinha
ainda não nascida

Nada que a arte não piore

 
( EDU PLANCHÊZ )

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HORA E  A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA 
SENTAR-SE A MINHA MESA


Seu Augusto Matraga, 
acho que levei mais da metade da minha vidinha ouvindo 
o matraquear de seu nome, 
num sei se du beiçu dus sapu di chifri 
ou si das rodela da fumaça qui cutuca dêsq’eu nasci
us gaio de minhas oreia

Manu véio, Maria por cá  nunca foi virgem, a virgem aqui é outra 
e dá sem parar prus inventores de puesia; 
mas vãmu deixar de prosa-sem-carne 
e merguiá nas carnes du prato mesmo, 
antes que a  erosão artoriana du cérebro 
(que minha amiga Rosa Kapila tanto fala)
venha fazer parte da sopa

Nem mato, nem cavalo, 
cachorro mijando nos ângulos da rua
e nas traves do pensamento que constrói planetas de rapadura

Quase num entru na Academia 
que você antes de se despedir dos vivos
habitou por três dias 
(só vou lá quando tem coquetel
porque num quís ser medico nem diplomata)
Se você não tivesse morrido (Você morreu?) 
poderíamos ir a um dos Armazéns da Praça Mauá “nada fazer”,
e “nada a fazer” pode estar englobado no ato de bisbilhotar 
os navios lá ancorados,
ou mesmo degustar sandubas de carne moída
numa das barracas que fica em frente a delegacia da poliça federá 

Sei para que lado fica Goiás:
(eu) indo pros vestidos de Brasília 
passei por alguns dos torrões desse teu estado, 
me alembro que ú veículo q’eu habitava aprochegou-se 
num posto-de-beira-de-estrada,
para os forasteiros serem vacinados
contra a malaria vigente por aquela vibrante região

Seu João Augusto Matraga das Pindaíbas Enjoadas,
té estou tentando acaipirar meus vocábulos pra ficar de cócoras
cum ocê,  mas sei que num passo dum esquizóide urbano
que quasi nada aprende, no máximo, 
consigo ir arrancando palavras auras-pintadas
do esôfago e das serpentinas do meu cérebro
”coágulos-de-sol” casa de Homero e Virgilio

O café quase ferveu e a onça da fabrica de computadores rugiu enquanto trocava essas trova com o cumpadi.
Pena que é só na imaginação de suspensos jardins
que batemos esse papo de aranha-mineira
Sabe o que eu acho na desmentira, 
que o céu é nada diante de ocê


( EDU PLANCHÊZ )

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         A liberdade está repleta de seres
                              
                                                            ( À Rosa Kapila)
Você deve possuir a cor que desejar
ninguém tem o direito de criticar vossa escolha
Está escrito na lógica dos desejos
que o céu contém mais peixes que os oceanos

Amarra nas crinas do cavalo de Tróia
as bocarras da noite
que a loba da pele azul cintilante nos prenderá nos anéis das almas almiscaradas usando a luz das prênhes amoras

Você deve possuir a si mesmo desejando
a totalidade do Logos

Está desenhado nos tonéis e nas tintas
a minha e a tua cara mutante
nada mais que humana

Se ela cultiva uma lacraia na buceta, deixe-a,
a liberdade esta repleta de seres 


( EDU PLANCHÊZ )

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SENDO BORGES             

                                  (  Para Rosa Kapila e seus dedos infernais )


Sendo Borges,
ingresso para sempre no círculo
das imagens roldanas engrenagens
aquecidas no rolar do tempo
dos homens de gênio,
esse tempo não pode ser contado, ele sequer existe,
talvez possamos nos esqueletos das palavras
bolinadas (pelo poeta) provar os ponteiros e a lança,
o nascer e o morrer das estrelas

Sendo Borges,
contemplo o que queda das circunstâncias
e vou a meu modo com palavras
gerando da forma que percebo
a coisa que você chama de poesia

Aqui nessa esquina
escrevo tão bem quanto Novalis
Mas vocês preferem olhar
para os mortos da Europa

Moro na América Latina,
até então república de escravos
Aqui pouco se lê,
a maioria dos  que aqui escrevem
provam o bolor da fome

Sendo Borges,
penso, acabo perdoando os ingênuos,
afinal de contas,
nem leite C eles tomam

Sendo Borges,
entre os vis faço as refeições
olhando para eles e para o construtor
da Grande Pirâmide

A marca da Pantera, O céu dos românticos,
As reinações de Narizinho,
quitutes do lítero cardápio
que o mestre momento derrama
sobre a pele dos olhos

Sendo Borge,
é glorioso triturar o globo, o cubo, o losangulo, o triangulo
e o trapézio com o martelo da inteligência dos mariscos
e repartir os cacos das geométricas formas
com os povos desses continentes ensangüentados,
e a titulo de nada sob as ordens de Baudelaire
cantar a canção dos marinheiros
Içar velas! Homens ao mar!

Tirar a ancora da cama
para que a Vênus vinda do fundo suba nos espelhos
e nas lanternas que pendurei no umbigo

Sendo Borges,
calço o sapato,
as luvas,
a cartola...
e entro com sono
no fígado dos seres imaginários

( EDU PLANCHÊZ )

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DIVIDO O MANJAR COM OS LAGARTOS
           ( o sequito das intocáveis)

 
Divido o manjar com os lagartos,
bem sei que eles nos olham mirando o esôfago;
por meio de uma lupa de fogo esses senhores penetram
a mitocôndria do muito antes, antes mesmo de sermos fetos

Caso encontre um lagarto no piso dos jardins suspensos
prepare-se para viver no centro do ímã 
onde todos os destinos se cruzam

Você deve achar tudo que escrevo muito estranho,
confesso ter a mesma opinião

Me chamo terra,
recebo das nuvens de nêutrons
as palavras da chuva,
palavras rebeldes não pisam em linha nenhuma,
nunca freqüentaram reles dicionários
De nada adianta cercar com farpados arames 
o séqüito das intocáveis 
   
( EDU PLANCHÊZ ) 

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         QUE AQUI SEJA KANSAI
                                                      
                                         ( à aniversariante Rosa Kapila )


As cara que vejo no monitor
As caras que não vejo no monitor
O camarada-eu-mesmo cantando na tromba do fone de ouvido

Gostaria de entender os mesquinhos 
para não mais arder de raiva

Essa necessidade de sempre vencer...
a corda prossegue arrebentando no dorso
do que ainda anda duro ( nesse acaso, eu)

Brigar comigo por causa de meia dúzia de cabides e uma maçã,
é agredir (sem sombra de duvidas) toda uma constelação
de poetas e pensadores

Não querendo reclamar mas reclamo
Digo o que não desejo,
bato na própria cara
para não afundar Marte no fel das lesmas

A convivência humana muitas vezes é serra elétrica ligada
Passar à arte a neurose adquirida, ouvir a historia do carvão
que se verteu em diamante da própria boca
Transmutação em nome da inteligência
A minha inteligência nada serviçal encontra a inteligência
e a anatomia cósmica de Leonardo Da Vinci
Na poesia o pensamento se organiza,
devolve o poder a mecânica viva do corpo:
o homem volta a andar,
dá a César o que é de César,
reescreve o poema amassado,
atravessa sem errar as ruas

Aprendo a não me curvar diante da maldade
vinda do emaranhado cérebro dos ainda tolos
Se não escrevesse esse desabafo teria dificuldades,
dormir de que jeito? 
A voz do meu amigo, doutor Lino,
atravessa os muitos quilômetros
que separa o Rio de Janeiro
de São Jose dos Campos
para acariciar meu heróico coração-pão-de-açucar

02h30m, meu Mestre Poeta Daisako Ikeda, se estiver no Japão,
deve ter acabado de almoçar;
o sangue que gira em seu olho
gira no meu que é amarelovermelhoazul,
cores da bandeira da Soka Gakai Internacional

Meu Mestre, 
aqui seja Kansai

A culpa das tempestades que causei,
é alimento, fortalecera a fogueira
da minha grandiosa Revolução Humana
Durmo sobre o arco-íris que sai da Torre do Tesouro    


 Orgulhosamente:  

 Eduzinho Planchêz – Rio, 30-agosto-2004